#73 - Gone: O Mundo Termina Aqui - Michael Grant

, em sexta-feira, 6 de julho de 2012 ,
Editora: Galera Record
Páginas: 518
Ano: 2010

Sinopse (Skoob): Em um piscar de olhos, todos com mais de 14 anos desaparecem. Restam adolescentes. Pré-adolescentes. Crianças. Nenhum adulto. Nenhum professor, policial, médico ou responsável. Linhas de telefone, redes de televisão e a internet param de funcionar. Não há como pedir ajuda. A fome é intimidante e a violência começa. Os animais parecem estar se transformando, e uma criatura sinistra está à espreita. Os próprios adolescentes estão ficando diferentes, desenvolvendo novos talentos: poderes inimagináveis, perigosos e mortais, que crescem dia após dia. É um mundo novo e assustador. É preciso escolher um lado — e a guerra é inevitável.


Talvez nem todos compreendam a minha analogia mas, se eu precisasse resumir esse livro em poucas palavras, diria que ele é a versão X-Men de O Senhor das Moscas. Isto é, se algum de vocês quiser criar uma história apocalíptica com um elenco essencialmente infantil, faça como Michael Grant fez em Gone.

Em livros e filmes, crianças são normalmente retratadas com candura, como uma forma de fazer o público alvo ter empatia com elas (a menos, é claro, que se trate de filmes de terror. Tipo O Chamado). Esse recurso de enredo normalmente falha em explorar com profundidade a mente completa dos pequenos porque, obviamente, não é a intenção do autor perturbar ninguém com a noção de que crianças podem - e são - tão cruéis e egoístas quanto os adultos.

Estamos habituados a protagonistas ou coadjuvantes infantis que suportam heroicamente situações traumáticas, ou tomam decisões sensatas sob pressão, quando a realidade nem sempre é essa. Existem, sim, umas poucas crianças que nasceram para ser de um esquadrão antibombas ou coisa do gênero, mas há muito mais daquelas que entram em pânico quando a mãe não atende o telefone.

Por baixo das mutações radioativas e mistérios impenetráveis, é isso que Gone aborda: como uma multidão de meninos e meninas menores de quinze anos lidam com suas próprias vidas em um mundo sem a ordem dos adultos.

A leitura é AGONIZANTE. Fiquei metaforicamente sentada na ponta da cadeira durante todos os capítulos. O autor aumenta ainda mais essa descarga de nervosismo com as contínuas trocas de ponto de visto, repentinas e indiscriminadas. Leia-se: o homem muda o ângulo entre protagonistas, coadjuvantes e antagonistas (isso mesmo!) todo o tempo. E ainda faz questão de acabar os capítulos entre a vida e a morte, literalmente, antes de pular para um personagem em situação completamente distinta.

E não pensem que são apenas uns poucos pontos de vista. De cabeça, sem conferir, conto pelo menos dez personagens de PoV. Quase um livro do George R. R. Martin.

A história começa de supetão, com todos os maiores de quinze anos simplesmente desaparecendo no meio de uma manhã aparentemente normal. O protagonista, Sam Temple, lembrou muito o Percy Jackson de Rick Riordan, embora seja muitíssimo mais relutante em assumir liderança e responsabilidade (além de ter muito menos senso de humor). Por exemplo, ele rapidamente concluiu que, sem adultos, não há ninguém para cuidar das crianças pequenas, mas logo tenta esquecer esse pensamento, decidindo que não pode fazer nada a respeito.

É válido mencionar que Grant lidou com as consequências do sumiço dos adultos com dolorosa precisão, tanto como já mencionado problema das crianças pequenas, quanto a respeito dos carros que estavam sendo dirigidos por motoristas que desapareceram do volante, ou fogões que estavam acesos com as panelas do almoço. Ou com o fato da cidade onde se passa tudo isso, Perdido Beach, estar localizada ao lado de uma usina nuclear.

Pois é. Como disse o Gênio da Lâmpada a Aladdin, "não é um quadro bonito". Podem imaginar como fiquei dividida entre horrorizada e angustiada todos os momentos dessa leitura.

A única coisa que tenho a reclamar de Michael Grant é o "Complexo de Annabeth Chase" - um fenômeno que tenho observado com alguns autores (homens) de Young Adult, que precisam entender que não há nenhuma lei no Universo forçando os protagonistas atormentados e bonitos a se apaixonarem forever and ever pelas companheiras loiras superdotadas. Em Percy Jackson e os Olimpianos dá para perdoar porque Rick Riordan construiu com muito zelo e realismo o relacionamento entre Percy e Annabeth. Mas em Eu Sou o Número Quatro e em alguns outros YA venho notando esse padrão meio irritante. Pensando bem, vou mudar o nome para "Complexo de Sarah Hart".

Grant podia ter esperado mais um livro para enfiar o romance na nossa cara, sinceramente. Tanto pela situação desesperadora dos personagens, quanto pela caracterização do casal. A dupla não me convenceu, foi muito tediosa e forçada. Os personagens pareciam melhores separados do que juntos. Sério, em Harry Potter, por exemplo, a Hermione não casou com o Harry e o mundo não implodiu por causa disso, né. Muito pelo contrário, o Harry nunca precisou estar namorando com ninguém para ser um personagem muito bom, e a Hermione não precisou ser a namorada do protagonista para se tornar um exemplo de personagem feminino autêntico e forte.



Entretanto, essa é a única mancha na história. O resto é empolgante, com uma camada convincente de realismo e lógica, explorando a humanidade de garotos e garotas vivendo a lei da selva. Quem gostou de Jogos Vorazes, Lost, The Walking Dead e enredos de sobrevivência em geral, vai se divertir/desesperar com isso aqui.

Nota: 4/5 (por causa do romance)

Larissa~
(assinando porque a Camila se revolta com a minha vontade de ser um super herói anônimo D:)

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