Resenha #28: As Esganadas - Jô Soares

, em terça-feira, 17 de janeiro de 2012 ,
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 242
Ano: 2011

Sinopse (Skoob):
Como ator e comediante, o Jô é um grande fazedor de tipos. Sabe como poucos construir um personagem, defini-lo com um detalhe e dar-lhe vida com graça e inteligência. Como autor, essa sua maestria se expande: os tipos são postos no mundo e, mais do que no mundo, numa trama — e o seu criador (eu quase escrevi Criador, pois não deixa de ser um trabalho de deus) se solta. Toda a ficção do Jô é feita de grandes personagens envolvidos em grandes tramas. Os tipos e a trama deste livro são especialmente engenhosos e através deles o autor nos dá um retrato saboroso do Rio de Janeiro no fim dos anos 1930 e começo do Estado Novo — o Rio das vedetes que davam e dos políticos que tomavam, das estrelas do rádio e das corridas de “baratinhas”. E nesse mundo em ebulição chega uma figura portuguesa, saída de um poema do Fernando Pessoa, para elucidar o estranho e terrível caso das gordas desaparecidas que… Mas não vou revelar mais nada. Um dos prazeres da literatura policial é ir acompanhando o desvendar de uma trama, levados de revelação a revelação por alguém com a fórmula exata para nos enlevar — e enredar. No caso do Jô, quem nos guia é um autor que já provou seu domínio do gênero, e que aqui se supera na perfeita dosagem de invenção, humor e erudição que nos prende desde a primeira página, desde a epígrafe. Prepare-se para ser enlevado e enredado, portanto. E prepare-se para outras sensações. Só posso dizer que a trama deixará você, ao mesmo tempo, horrorizado e com fome. E que depois da sua leitura os Pastéis de Santa Clara jamais significarão o mesmo.


Sabe aquela sensação em Moulin Rouge, quando o nosso escritor já revela uma morte triste, triste? Não estragou o filme. Não para mim. No romance brasileiro, conhecer o assassino das sofredoras gorduchas no Rio de Janeiro de 1938, conhecer os seus motivos parece despertar outra pergunta básica: como descobrir o assassino? E por que ainda não descobriram?
Para ajudar um membro da Polícia carioca, estribuchado e bem brasileiro, e seu fiel, magro, límpido, covarde e festeiro companheiro de trabalho, ajudarão: uma filha da grande sociedade carioca – que mais preza seu Anjo da Guarda Derringer (a arma) do que o sobrenome – e um barril em forma de detetive sem metafísica, tirado dos textos de Fernando Pessoa.
O caso não é tão fácil assim: as gordas desaparecidas e assassinadas viram receitas portuguesas, engasgadas com funis pela garganta, pagando pelo pecado da gula, mas quem?
Os leitores sabem quem é o assassino, mas os sentimentos são conflitantes: rir da polícia que não descobre (nem suspeita, ao menos) o que está “na cara”, escolher o herói mais cativante, angustiar-se com a demora na resolução... Mas como descobrir o assassino?
O romance é estudado, as referências bibliográficas no final do livro comprovam o cuidado em construir um contexto histórico – E GRAMATICAL, o mais charmoso para mim – adequado, nas vistas da Guerra Mundial... Sim, ganhei um autor quase favorito! Se o tema não me deixasse com certa fome...

Nota: 4,5/5

@vjtrick

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